O futuro chegou, acelerado por um vírus, e com ele assistimos a consolidação do mundo figital. O físico ampliado pelo digital e organizado pelo social muda comportamentos, transforma mercados.

A fábrica, principal equipamento social de produção dos bens de consumo nos últimos duzentos anos, também se transforma nessa passagem do presente físico para o futuro figital.

As fábricas figitais agregam serviços aos seus produtos e se colocam como grandes plataformas que articulam ecossistemas cada vez mais baseados em bits e redes de pessoas. A fábrica figital é, expandida pelo digital, uma rede de laboratório, consultoria, loja, estendida.

a fábrica histórica

uma criação revolucionária

A fábrica como a conhecemos tem 300 anos, vinda das primeiras tecelagens movidas a roda d’água; deixou para trás os processos artesanais há 150 anos, se tornou linha de produção há 100 anos e foi robotizada há 50 anos. Nos últimos cem anos a fábrica mudou dramaticamente a variedade, qualidade e volume da produção, ao mesmo tempo em que estabelecia padrões e reduzia custos, criando toda uma nova classe de trabalho e trabalhadores, ao mesmo tempo em que serviu de base para a riqueza e ruína de cidades, regiões e até países.

Mas a fábrica do futuro não é a fábrica histórica, da revolução industrial, associada a uma combinação de computadores, robôs e sistemas flexíveis que fazem o trabalho repetitivo e pesado. Essa é a fábrica do presente, que pode ser encomendada, como produto, a “fabricantes de fábricas”, por qualquer um que tenha meios para tal.

A fábrica do futuro é uma rede, influenciada pelo consumidor em rede, provocada por fluxos de dados de seus próprios produtos, que ela –a própria fábrica- transforma em uma rede de serviços sobre plataformas digitais. A fábrica do futuro quase imediato fará coisas que estarão na internet. Mas a fábrica do presente imediato, sobre pressão dos varejistas, não pode esperar o futuro.

A fábrica tem que se redesenhar agora, estendendo seus sensores para muito depois do portão de entrada, se conectando e articulando diretamente com o consumidor.

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a fábrica digitalizada

robôs, desde os anos 1950

A primeira revolução industrial viu a transição da produção manual para a produção por máquina. Na segunda, a geração e distribuição de energia elétrica levou à linha de produção; na terceira, a digitalização e automação dos sistemas de produção mudou não só o que era possível produzir, mas o como. A quarta revolução industrial, que é o que deveríamos estar vendo agora, tenta criar ecossistemas figitais onde a fábrica é o pivot que articula a rede de valor, antes, durante e depois do produto ser feito. Em outras palavras, indústria 4.0 é a fábrica, figital, em rede.

Um dos problemas que a indústria –até mesmo a mais moderna- tem que tratar, hoje, é que os líderes se identificam quase sempre como fabricantes de produtos, apenas. E estamos em tempos em que o varejo digital domina a interface com o usuário final e tem objetivos, quase óbvios, de comoditizar a indústria. Isso desde os anos 1920, onde a teoria da Marks & Spencer, rede de varejo inglês, dizia que... “se é o varejista, e não o fabricante, que conhece o cliente,... é o comerciante, e não o industrial, que deveria projetar e desenvolver os produtos e montar a rede de valor que entrega os produtos de acordo com seu design, especificações e custos”.

Robôs, nas fábricas -desde máquinas de controle numérico na produção, na década de 1950- melhoraram a qualidade dos produtos e a produtividade da indústria. Mas não mudou, fundamentalmente, o que a fábrica fazia e faz. É preciso dar um salto e recriar a indústria, centrada no usuário, que trabalhe com ele e para ele, baseado na construção com ele, de experiências para ele, que se tornem nossas.

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a fábrica figital

deveria existir, desde os anos 2000

A chegada da internet nos anos 90 deveria ter motivado as fábricas a trabalhar direto com seus consumidores. Mas tal salto envolve uma mudança conceitual e cognitiva muito grande, afetando toda a rede de valor.

Como resultado, poucos agentes se mobilizaram para entender as possibilidades do que não era apenas um novo meio de comunicação, mas um novo contexto de conectividade digital, capaz de habilitar novos modelos de negócios em novas redes de criação, captura e entrega de valor.

A fábrica figital difere –e muito- da fábrica digitalizada porque nesta última se usa os artefatos digitais –robôs, sistemas de controle, ERPs...- intrinsecamente nos processos de produção, que não são redesenhados para o mercado figital nem para o contexto do trabalho híbrido.