Este texto se baseia em Systems competition and network effects, de Katz e Shapiro, com os conceitos de rede do poder, poder da rede, poder em rede e da rede como programa de poder vindo de A Network Theory of Power, de Castells. Redes sem escala é de Linked, de Barabási, moderada por Scale-free networks are rare, onde Broido e Clauset mostram que redes sem escala são muito raras no mundo real. Lá, ou nas discussões, redes têm uma diversidade que exige ideias e mecanismos inovadores para explicar. E não temos todos, ainda. Também tentamos entender Baye e Prince [em seu The Economics of Digital Platforms: A guide...] e Fainmesser e Galeotti [em Pricing Network Effects]; deu trabalho.
Usando tais bases, adaptamos, restringimos, modificamos e estendemos a proposta de The Network Effects Bible , da NfX, trazida para o contexto de strateegia, o que resultou no material das páginas a seguir, onde -claro- todos os erros são por nossa conta.
Efeitos de rede e sua contribuição na criação e evolução de ecossistemas figitais serão objeto de décadas de estudo. Este pequeno manual prático –e não uma bíblia- de como lidar com as plataformas que habilitam redes de ecossistemas e seus agentes, agora, foi pensado como um ponto de partida, para ser adaptado, modificado e estendido.
Desejamos ao leitor uma experiência leve o suficiente para ser interessante e divertida e ao mesmo tempo profunda o suficiente para ser estruturante.
a humanidade foi construída sobre efeitos de rede
Em mercados figitais, efeitos de rede quase sempre dependem de informação, até porque boa parte dos produtos e serviços é mediada por informação ou é a própria. A história da informação pode ser pensada em estágios, que acumulam efeitos e impactos. Informação pode ser codificada em DNA, cérebros, ferramentas, texto e código: quatro bilhões de anos, em cinco palavras. E há muitas outras visões e classificações, claro.
Uma ferramenta separou o Homo Sapiens da competição: o fogo. Qual seria sua utilidade se ninguém soubesse iniciar e terminar um de forma repetível e segura, nem entendesse para que e como usar? Fogo ilumina [e espanta predadores], aquece ambientes [e protege pessoas], cozinha [e facilita digestão de alimentos]... molda ferro, cria aço e espadas... e um sem número de usos. Mas para ser útil em escala, muita gente tem que aprender os quês, porquês e comos do uso. À medida que mais gente entende como usar o fogo, há cada vez mais gente capaz de mostrar, a cada vez mais gente, os quês, porquês e comos de seu uso. Assim caminhou a humanidade, usando um efeito de expertise associado a uma tecnologia –ou ferramenta-, para se desenvolver. O fogo, e sua rede de conhecimento, nos criou.
Parte do efeito –a informação sobre a expertise- foi codificado em textos, distribuídos desde o princípio da escrita. A prensa de Gutenberg criou a indústria e mercado do texto, em rede, não só de livrarias e bibliotecas, mas de escolas: é preciso saber ler para participar. Quanto mais gente sabe ler, mais livros, mais escritores, prensas, livrarias, mais gente lendo e mais gente que precisa aprender a ler: o livro, como ferramenta, se tornou cada vez mais valioso quanto maior seu efeito de expertise, a leitura. E a escrita, claro. O livro é uma grande rede.
e os efeitos habilitados por código mudam tudo
Se texto -tecnologia de 7000 anos- foi base para os efeitos de expertise ganharem escala no espaço físico, criando um universo de conhecimento e aprendizado centrado em escolas e universidades, código –uma tecnologia dos últimos 70 anos, que pode ser vista como texto formal, executável por máquinas- criou a possibilidade, primeiro, e a realidade, logo depois, de estender redes e seus efeitos para o espaço figital. Aí, efeitos de rede mudaram de escala.
Neste espaço de dimensões física, digital e social, as duas últimas, virtuais, transformam a primeira, aumentam e estendem as dimensões do espaço físico e criam um novo espaço, o figital. Ao transformar o espaço –até porque pode simular o físico e criar novas realidades– código modifica as interações entre pessoas [e sistemas], redesenha suas redes e, por isso, [re]cria [nov]os efeitos de rede aos quais pessoas e sistemas estão sujeitos hoje em dia.